“Deixe-os comer insetos” – Os alimentos e o futuro do capitalismo


Recentemente a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou um relatório que sugere uma nova ideia: convencer a população mundial a comer insetos para evitar a fome em massa. Na realidade, já é possível alimentar a todos, sem a necessidade de comer insetos. O que impede isto é o “mercado”, isto é, o capitalismo.

Há quase dois séculos, Malthus propôs a ideia de que ajudar aos pobres era um erro: eles deveriam ser deixados a morrer de fome, uma vez que a natureza não pode acomodar todos eles. Apesar de muitos pensadores, entre eles Marx e Engels, evidenciarem a fraude desta “teoria”, foi a própria burguesia que a rejeitou na prática, visto que os patrões necessitavam de cada vez mais força de trabalho humana nos campos, campos de batalha, minas e fábricas.

Durante décadas, a propaganda foi dirigida para a promoção do crescimento populacional porque era disto que o capitalismo necessitava. As melhoras na assistência sanitária, vacinações e assim por diante ajudaram a população para satisfazer a fome do capitalismo por trabalhadores. Agora, na época da decadência senil do capitalismo em escala mundial, a situação deu um giro completo e voltou…  a Malthus! A propaganda voltou a dar relevo ao perigo da superpopulação e à necessidade de se aceitar tudo que for necessário para acomodar este desagradável fato da vida. O lado mais imoral desta ressurreição é que frequentemente provém dos autoproclamados intelectuais de esquerda. “Devemos salvar a Terra para a humanidade” é o mantra. Na verdade, esta é a austeridade vestida com as plumas da política Verde.

Aparentemente, 200 anos de evidências científicas refutando Malthus não foram suficientes. Os Malthusianos tinham declarado que o Armagedon estava chegando quando o mundo alcançou um; em seguida, dois; e logo, três bilhões de habitantes. Agora, as estatísticas das Nações Unidas sugerem que a população mundial alcançará nove bilhões de habitantes em 2050. Pondo de lado o fato de que estas estimativas têm um poder de previsão muito pobre, isto significa que a produção de alimentos terá de crescer em torno de 60% em 40 anos para satisfazer a demanda. Falando em termos quantitativos, isto é bastante plausível, uma vez que significa um crescimento anual combinado de um pouco mais de 1%.

O problema não está no número de seres humanos que vivem no planeta. O que é insustentável é o modo como o capitalismo lida com a Terra e seus recursos naturais. Não é a humanidade por si mesma que está destruindo a Terra, e sim o capitalismo, com sua constante busca de cada vez mais lucros, que está tornando a vida insustentável. Isto se desprende de fenômenos aparentemente díspares como o aquecimento global, a obesidade, a destruição das florestas ou a doença da vaca louca. Todos estes problemas nos anunciam que o tempo é curto. Quanto mais o capitalismo sobreviver, maior o perigo para o meio-ambiente e, dessa forma, mais urgente se torna a tarefa de remover este sistema.